Essa coluna copiei na íntegra porque me identifiquei. Sinto-me uma fumante passiva, ou alguém meio defumada... com uma sensação de torpor, embriaguez dos sentidos... Mas de pleno acordo com o doutor! Eu sempre digo: " Educação... mandou um abraço!"
Temos problemas de origem educacional, já que, desde a escolinhas, às crianças não são ofertados grandes atrativos para esse mundo que é a leitura.
Problemas de origem cultural, porque o brasileiro se acostumou ao "mínimo necessário", inclusive ao ler.
Quando adolescentes na escola, lemos o resumo do livro para o vestibular (por quê não o livro todo?), mais tarde lemos as manchetes do jornal (por quê não o artigo todo?), lemos.... hum... lemos mais o quê hein? O horóscopo no jornal, o resumo dos últimos capítulos da novela... algo mais???
Então! Está aí nosso mal!
Nem bulas de remédios, nem manual do novo celular, nem a caixa de emails se lê mais!!! Ler um livro?????? Acho que estamos a pedir demais.
Mas eu me diferencio dos outros!!!!
Eu percebo que sou míope, meio cega, sabe...!? Mas as pessoas, aliás, muitas pessoas não! Não percebem ou fingem que tudo está normal!
Devagar eu vou me consertando, uso diariamente meus óculos para não ficar mais míope, mas ainda sou fumante passiva, nesse mundo onde o fumacê ainda passa na minha rua.
E sem esquecer o aspecto econômico. Em outros países, livro é bem barato! Existem sebos, trocas. E no Brasil, a gente fala em sebo e o povo torce o nariz, torce a cara toda! Mas livro aqui ainda é artigo de luxo, artigo para poucos.
Vamos ler a matéria que copiei aqui no post:
"Quando um certo alguém disse que “existe um limite para tudo, menos para a estupidez humana”, acertou na mosca. Pode ter sido Einstein, Sartre, Schoppenhauer, Tiririca, sei lá. Certamente vou receber um email dizendo de quem é esta máxima, mas que a mosca levou um peteleco no meio da testa, ah levou.
Como não é possível deixar a estupidez humana de lado (teríamos que alugar um planeta inteiro só para isso), vamos esquecê-la por alguns instantes e nos concentrar na primeira parte da frase. “Existe um limite para tudo”.
Existe um limite para o seu esforço, um limite para seus amigos, amores, vitórias e derrotas basicamente porque existe um limite para sua quantidade de dias. Apesar disso não ser novidade, conheço poucas pessoas que aprenderam a dimensionar esta verdade no tira-colo do cotidiano.
Quer um exemplo cinematográfico da nossa falta de visão? No filme “Homem de Ferro”, o personagem Tony Stark se vê preso em uma caverna nas montanhas nos confins do Afeganistão (hum… “confins do Afeganistão” não é uma redundância?), coagido a construir um míssil para os rebeldes com a promessa de ser libertado em seguida.
- Haja o que houver – ele diz para si mesmo –, de qualquer forma, fazendo ou não o míssil, estarei morto em uma semana.
- Então – diz seu companheiro de cela –, esta é uma semana muito importante para você, não?
A tragédia e a beleza de tudo se esconde no limite.
Transformando a teoria em prática, suponhamos que você seja capaz de ler um livro a cada dois meses. Da alfabetização até estar com Alzheimer e não conseguir lembrar onde diabos colocou o livro (“hein, eu estava lendo um?”), vamos dizer que tenham se passado cerca de 80 anos. Isso daria um total de 480 obras. Sua capacidade de leitura ao longo da vida se restringirá a uma pilha de 480 títulos. Beeem menos do que o mercado editorial brasileiro lança em um ano.
Daí a importância do que você lê. Cada obra é importante, porque seu número de livros será limitado pelos seus dias. Em A Filosofia da Ciência, Rubem Alves comenta muito apropriadamente que o refinamento do pensamento depende da riqueza de vocabulário. Quem lê mais ganha mais palavras para ter mais ideias e raciocinar melhor. A inteligência é mais um produto de hábitos que uma benção divina.
Talvez nenhum outro livro tenha mudado tanto minha visão da medicina quanto “O Físico”, de Noah Gordon. O título original, “The Physician”, teria sido melhor traduzido para O Médico, mas tudo bem. Não é por causa de uma ervilha amassada que vou jogar todo o risoto fora.
Em “O Físico”, o vendedor ambulante Barber se desloca de uma cidade a outra comercializando seu Tônico Universal, uma bebida doce, com leve teor alcoólico, específico para o tratamento de todas as doenças – como o próprio nome sugere.
Em um de seus acessos de sinceridade, Barber comenta com seu aprendiz, o jovem Rob Cole:
- Quando eu morrer e estiver na fila na frente do portão, São Pedro vai perguntar, “Como você ganhou a vida?” “Eu era fazendeiro”, dirá um homem, ou, “Eu fazia sapatos de couro.” Mas eu responderei: “Fumum vendit”. Eu vendia fumaça.
O Físico se passa na Idade Média. É triste perceber que não mudamos muito desde então. O que chamamos de desenvolvimento ou progresso não passa de mais do de sempre. A despeito do maior acesso ao conhecimento, as pessoas ainda insistem em basear suas decisões em mitos, dogmas e desinformação. Ninguém quer pensar. Todo mundo está inebriado em um torpor de fumaça ignorante com cheiro de pão e circo.
Inserida neste cenário, a medicina está se tornando uma neblina que mais confunde que ilumina. Acompanhando o restante da sociedade, nós médicos vamos perdendo (ou já perdemos?) o rumo e, ao invés de acumular sabedoria para oferecer ao próximo bússolas para dias melhores, estamos nos tornando especialistas na arte de vender fumaça. Exames caros, procedimentos sofisticados, nenhuma empatia.
Também, de que adianta? Quantas vezes seu médico tentou lhe convencer de exercícios físicos, largar o cigarro, diminuir a bebida, combater o sobrepeso, manter a pressão e o diabetes sob controle, melhorar o sono, reduzir o estresse…? E quantas vezes você realmente ouviu, refletiu e mudou? Vendedores de fumaça existirão enquanto existirem compradores de fumaça.
A única saída que vejo para esse problema está na leitura. Assim como você planeja sua carreira, seu salário, seu guarda-roupa e o menu da semana, seria maravilhoso programar sua leitura para este mês e ano. Quais obras deseja ler? Uma rápida pesquisa na internet pode lhe fornecer um cardápio saboroso de idéias.
Você é o que come. Mas se tornará aquilo que lê. Se você consegue ler apenas um livro por ano, então, como diria Tony Stark, esse será um livro muito importante, não? Escolha-o com cuidado. Leia-o com atenção. Ou continue cego para o mundo à sua volta, sorvendo goles generosos de tônico universal, enquanto espera pelo próximo vendedor de fumaça.
Eu? Eu não fumo mais."
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