PORQUE RAZÃO DESISTIMOS DOS NOSSOS OBJETIVOS?
Quando ainda era um jovem atleta,
iniciei-me nas corridas de corta-mato e estrada. Mas, revelo que não
tinha qualquer talento para as corridas de fundo e meio-fundo, o que
mais tarde se viria a comprovar com a minha paixão no salto em altura e
no qual consegui atingir alguns bons resultados a nível nacional.
Voltemos então às corridas de meio fundo, onde eu sempre que entrava em
competição passava por um calvário mental, uma luta entre a dor,
angustia e o orgulho de não desistir. Era um desconforto enorme que eu
sentia assim que se instalava o cansaço, as dores nas pernas e a
respiração ofegante e dolorosa. Depois, sempre que eu entrava neste tipo
de competição, acontecia algo de curioso, a minha mente era pródiga em
lembrar-me o quanto eu tinha sofrido na corrida anterior e rapidamente
se projetava uns quilómetros mais para a frente, para a meta. E assim,
abruptamente só pensava em parar.
Só pensava em chegar ao fim, só pensava
no momento em que eu iria parar assim que terminasse, que terminasse a
corrida e as minhas dores horríveis. A ideia que a minha dor poderia
terminar era tão incisiva que a minha capacidade para lhe resistir caía
drasticamente. Naturalmente, a quantidade de dor que eu estava sentindo
naquele momento não era pior do que a quantidade que eu sentia no
momento anterior. O que tinha mudado era a minha capacidade para lidar
com a dor. Porquê? Porque quando a minha mente começou a visualizar o
fim da corrida, deixou de conseguir gerir a dor que o meu corpo estava a
sentir, desviei o foco da minha atenção para onde não devia. Focando-me
na meta a minha capacidade de resistência à dor reduziu drasticamente.
Ainda assim, nunca desisti por 3 razões:
- Não me via como alguém que fosse capaz de desistir
- Gostava sempre de atingir aquilo a que me propunha
- O orgulho era maior do que a dor que sentia
FOQUE-SE NAS SUAS MOTIVAÇÕES PODEROSAS
Penso que este tipo de situações e
pensamentos por vezes também ocorrem noutras áreas da nossa vida. A
partir do momento em que nos propomos a um objetivo exigente, a um
desafio empolgante ou a mudar algo, inúmeras razões poderão surgir que
nos empurram para a dúvida e incerteza (por exemplo, o medo do fracasso,
medo do sucesso, a preguiça, falta de acreditar em nós mesmos, etc).
Uma maneira de pensar sobre o porquê de não desistirmos é que outras
motivações mais poderosas atraem a nossa atenção (por exemplo, o desejo
de melhorar o nosso nível de aptidão, reduzir o nosso nível de gordura,
ter prestígio, ganhar dinheiro).
A ideia de desistir só permanece na nossa mente enquanto existirem
razões para desistirmos, mas as probabilidades de desistirmos só
aumentam quando nos focamos na desistência.
Nós não acabamos por desistir de algo
porque enfrentamos muitos obstáculos ou por esses obstáculos serem muito
difíceis. Nós acabamos por desistir porque em determinadas situações
somos demasiado fracos. Na grande maioria da vezes não porque na
realidade o somos, mas principalmente por pensarmos que somos fracos.
Acredito firmemente, que o ponto de inflexão no qual não podemos mais
evitar prestar atenção na ideia de desistir, é o ponto em que as nossas
forças nos abandonam, e isto pode ser alterado. Nós podemos tornar-nos
mais fortes em algumas áreas da nossa vida ou perante determinadas
situações se desafiarmos a nossa fraqueza, mesmo que no inicio não
sejamos bem sucedidos. Aumentar a resiliência, física e mental, é um
processo árduo não linear. Ou seja, é um processo preenchido por avanços
e recuos, períodos de progresso e períodos de regressão. O que importa é
não desistir. A não ser que se comprove que a desistência é a melhor
opção. Mas, isto será sempre a excepção.
OS CONTRATEMPOS SÃO PARTE DA MUDANÇA DE MENTALIDADE
Todos nós, mais tarde ou mais cedo somos confrontados com contratempos na nossa vida. Existem razões para alguns de nós ficarmos paralisados nestas situações levando-nos à desistência. Apresento, 3 dos maiores obstáculos que promovem a desistência:- Você não antecipa as razões que o podem levar a falhar
- Você não antecipa formas de lidar com os contratempos
- Você não acredita que consegue mudar
Assim que você se proponha a mudar e comece a fazer alguns progressos, é provável que se depare com alguns contratempos.
Os contratempos fazem parte do processo para nos tornarmos mais
resilientes na vida. As mudanças não são acontecimentos lineares,
ocorrendo por vezes em 3 passos para a frente e 2 para trás. Os
resultados bem sucedidos são originados pelo foco contínuo nos passos
que damos em frente. Ao invés de usar os contratempos como desculpas
para desistir, use-os como oportunidades para aprender acerca do que não
funciona na sua vida e o que necessita de ser mudado. O fracasso é uma opção, mas o medo não.
Se você olhar para os
contratempos como experiências de aprendizagem, facilitará certamente a
preparação de um novo plano para evitar as dificuldade e seguir em
frente. Se olhar para os recuos e obstáculos como falhanços,
coloca-se no caminho da desistência. A melhor estratégia é tentar
perceber o que funciona. O que não funciona? Continue a fazer as coisas
que funcionam e analise novas abordagens naquelas em que não teve
sucesso. Faça alguma coisa que não tenha feito antes. Não desista do seu
objetivo, tente uma abordagem com uma perspectiva diferente. Em treino,
aos atletas, quando eles enfrentam algumas dificuldades na realização
de exercícios exigentes, e repetidamente falham, digo-lhes para
experimentarem fazerem o que lhes está a ser pedido de forma diferente,
para experimentarem novas formas, novos movimentos.
Existe uma diferença entre um lapso/recuso e uma recaída.
Um lapso pode ser definido por um breve retorno a um comportamento ou
atitude indesejável e uma recaída como um completo retorno para velhos
hábitos/atitudes, e/ou pensamentos. Se você fumar um cigarro, você não
deitou tudo a perder na sua intenção de deixar de fumar, mas se você
voltar a fumar um maço inteiro por dia, então sim, podemos dizer
que interrompeu o processo de mudança e desistiu do seu projeto de
desabituação tabágica. Se você recuar um pouco e por lapso tiver
comportamentos indesejados, desde que breves, pode usar isso para obter
informação acerca das situações que são mais tentadoras e/ou
incapacitantes e formular novas formas de lidar com os problemas em
futuros cenários.
TENTE, TENTE SEMPRE QUE LHE SEJA POSSÍVEL
O risco de tornar-se enraizado em
pensamentos auto-destrutivos, quando você é derrotado por si mesmo (ou
seja, optar por desistir), devemos perceber, que é muito maior do que
quando é derrotado por acontecimentos exteriores ou que não estão sobre o
seu controlo. Pode muito bem ser psicologicamente mais benéfico se você
se propuser a tentar novamente, esta atitude é bastante mais adequada,
do que entrar numa atitude de raciocínio desfavorável, enveredando numa
narrativa que o define como desistente e, portanto, merecedor de
insucesso.
Mas a auto-sabotagem é uma falsa narrativa.
Mesmo que falhe porque decidiu desistir, você pode tentar novamente.
Deverá relembrar-se constantemente que o fato de tentar, aumenta as
suas hipóteses de ignorar as vozes que ecoam na sua cabeça, dizendo-lhe
para desistir. Relembre-se sempre, que a chave para a vitória é a sua
força interior, e a chave para desenvolver essa força é tentar de novo,
não se agarrando aos fatores desculpabilizantes. Pense positivo, insista no pensamento positivo.
Algumas da razões pelas quais a
desistência na grande maioria das vezes tem um valor negativo e
desadequado foram apresentadas. Proponho-lhe que faça uma lista acerca
de novas formas de como lidar com os obstáculos e contratempos no
futuro. A seguir apresento uma lista construída com base em respostas de
pacientes em consulta clínica. Use-a para que o possa ajudar a
identificar as mudanças que quer fazer, e escreva alguma das razões que o
fazem pensar não conseguir vir a ser bem sucedido.
Apresento ainda uma “fórmula” para usar
na resolução de problemas. Pode usar estes passos para descobrir
soluções alternativas que não tenham sido apresentadas nos exemplos
anteriores:
-
Escreva os detalhes dos problemas ou contratempos mais significativos na sua vida. Passe a usar um registro que descreva detalhadamente as razões que encontra para o fato de não ter conseguido alcançar os resultados que desejava.
-
Soluções de brainstorming. Trabalhe com outras pessoas, medite, leia, mantenha uma mente aberta, escreva todas as alternativas que lhe passem na cabeça sobre como pode lidar com a situação.
-
Escolha várias soluções. Reveja as soluções, e foque-se naquela que lhe parece ser a melhor.
-
Implemente as soluções. Idealize um plano para a acção. Seja paciente e persistente até que obtenha os resultados que deseja.
-
Use a sua força de vontade para manter a sua atenção na finalização do resultado que deseja. Insista, persista, a persistência torna-se num hábito.
E aí??? Vai desistir???
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